É por esse esplendor deslumbrante que foi sua prerrogativa por tanto tempo que a mitologia das lojas de departamentos permanece tão poderosa hoje? Pelo lugar que estes edifícios resplandecentes ocupam na arte, na literatura, no cinema? Pelas memórias que evocam naqueles cujos avós os levavam todos os anos para ver a montra de Natal?
Originalmente concebidos para a burguesia e as classes médias, mesmo populares, estes templos da mercadoria inventados em meados do século XIXe século para satisfazer o menor desejo de seus clientes são hoje celebrados pelos museus, enquanto sua aura foi desviada pela indústria do luxo. Após a exposição “O Nascimento das Lojas de Departamentos” dedicada a eles pelo Museu de Artes Decorativas de Paris (MAD), a Cidade da Arquitetura e do Patrimônio assume “A Saga das Lojas de Departamento”.
Esta nova exposição difere da anterior pelo ponto de vista que adopta e pela amplitude que dá ao seu tema. Motriz de uma história cronológica que se estende por quase duzentos anos, viaja entre continentes, abrange quase todos os aspectos da vida social, a arquitetura dialoga aqui com a moda, a pintura, as artes aplicadas, o cinema, a publicidade… A cenografia é linda, e o corpus muito rico. Poderíamos mergulhar nele apenas pelo prazer do deslumbramento, ou da nostalgia, se não servisse também de base para uma bela aula de arquitetura.
De Paris ao México
Objectos tão diversos como os cadernos preparatórios de Emile Zola para Para a felicidade das senhoras (1883), a porta dupla, com seus vitrais art nouveau, do provador da loja Vaxelaire, de Nancy (1901), caricatura de Georges Dufayel (1855-1916), temido chefe das lojas de departamentos parisienses de mesmo nome, de Jules Grandjouan (1908), um modelo de questionário de recrutamento de mensageiro preenchido por um menino de 14 anos, tiras de notícias informando sobre as condições de trabalho em diferentes estabelecimentos, uma hilária montagem de publicidade retrô é colocada ao lado de inúmeros desenhos, fotos e maquetes arquitetônicas. Iluminada por dentro, a de Henri Sauvage (1873-1932) para as lojas Decré (1931), em Nantes, é uma das joias da exposição.
As curadoras, Isabelle Marquette e Elvira Férault, mostram como a tipologia dos grandes armazéns evoluiu ao longo do tempo, como respondeu às mudanças nos estilos de vida, nas mudanças na economia e na forma das cidades, e em que medida as suas transformações foram capazes de refletir os da disciplina – como refletiram, em particular, a dupla ruptura que terá constituído o advento do movimento moderno e o seu questionamento.
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