Mais de 300 milhões de pessoas necessitarão de ajuda humanitária de emergência em 2025 devido às guerras e às consequências das alterações climáticas, segundo estimativas reveladas nesta quarta-feira, 4 de dezembro, pelo Escritório das Nações Unidas para Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla inglesa). Um número comparável ao do ano que termina e que confirma uma situação humanitária mundial de gravidade sem precedentes. Em dez anos, a população em causa multiplicou-se por seis e o número de países em causa aumentou de vinte e dois para setenta e dois.
Perante esta explosão de necessidades, a ONU só pode constatar, ano após ano, os seus limites: os seus apelos de angariação de fundos – 49,6 mil milhões de dólares (47 mil milhões de euros) em 2024 – estão menos de metade cobertos. No entanto, a sua orientação é cada vez mais restrita para as populações mais necessitadas, em áreas onde é possível intervir. “Temos falta de fundos, estamos sobrecarregados e, além disso, o pessoal humanitário enfrenta ataques”resume Tom Fletcher, secretário-geral adjunto do OCHA, apontando a situação de “Gaza, Sudão e Ucrânia, onde as guerras são marcadas pela intensidade e ferocidade dos massacres, pelo desrespeito pelo direito internacional e pela obstrução deliberada dos esforços das organizações humanitárias para salvar vidas”. Desde o início do ano, a organização registou 281 trabalhadores humanitários mortos – mais de 60% dos quais na Faixa de Gaza –, mais de 500 ataques e 2.000 ataques contra infra-estruturas de saúde.
Para 2025, o OCHA espera arrecadar 47,4 mil milhões de dólares para beneficiar 190 milhões de pessoas em trinta e dois países. Mais de um terço destina-se ao Médio Oriente, onde o conflito entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza e depois contra o Hezbollah no Líbano, as guerras civis no Iémen e na Síria levaram – além de vítimas diretas – ao deslocamento de massas populacionais.
“Cortes orçamentais anunciados”
África também vê crises multiplicarem-se e agravarem-se sob o efeito combinado de conflitos e eventos climáticos extremos. Do Burkina Faso à Somália, na África Austral, onde a seca arruinou grande parte das colheitas e dizimou os rebanhos, dezasseis países estão sob o apelo das Nações Unidas. No Sudão, 30 milhões de pessoas, ou mais de 60% da população, necessitam de assistência devido à guerra civil que, para além dos cerca de 7 milhões de pessoas deslocadas, também levou ao afluxo de quase 2 milhões de refugiados em países vizinhos. Eclipsada por Gaza e pela Ucrânia, é a principal crise humanitária do mundo.
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