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Em “Mulheres na Varanda”, Noémie Merlant dá uma lição poderosa sobre feminismo

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Sanda Codreanu, Souheila Yacoub e Noémie Merlant em “Mulheres na Varanda”, de Noémie Merlant.

A OPINIÃO DO “MUNDO” – POR QUE NÃO

De Retrato da garota em chamas (2019) para Emmanuelle (2024), Noémie Merlant usou sua intensidade como atriz para apoiar um verdadeiro subgênero do cinema francês: a ficção pós-#MeToo. A libertação das vozes das mulheres encontraria aí a sua tradução cinematográfica, e cada filme, como um laboratório de representações, tentaria desprogramar cérebros que foram expostos durante demasiado tempo a uma versão das relações homem-mulher orquestrada principalmente por homens.

É também este programa que Noémie Merlant se inscreve como realizadora em Mulheres na varandaseu segundo longa-metragem, co-escrito com Céline Sciamma. O filme começa com os auspícios Hitchcockianos. No meio de uma onda de calor, uma longa sequência percorre a movimentada fachada de um edifício em Marselha, antes de focar sua atenção em um apartamento onde moram nossas três heroínas, em um bordel alegre e colorido. Há Nicole (Sanda Codreanu), uma aspirante a escritora que está lutando para entregar seu primeiro romance; Ruby (Souheila Yacoub), camgirl atrevida com sexualidade ilimitada; e Elise (Noémie Merlant), uma atriz à beira de um colapso nervoso que mantém um relacionamento tóxico com um advogado.

Descansar em uma varanda com um clima de 46 graus: superamos dolorosamente a incoerência. Ainda assim, esse pretexto foi necessário para que as jovens admirassem, bem na frente de suas casas, o lindo e misterioso vizinho (Lucas Bravo) que se pavoneia sem camisa e acaba convidando os três colegas de quarto para um drink. Conversamos, bebemos, rimos – então Nicole e Elise desaparecem, deixando Ruby com o belo fotógrafo. O resto acontecerá fora das câmeras.

Uma extravagância formal

De sua noite, Ruby retornará traumatizada e manchada de sangue, com um cadáver nos braços. Este peso morto do qual é preciso livrar-se é a metáfora óbvia de um ponto de vista masculino silenciado, neutralizado e que deve agora ouvir, do além-túmulo, o que as mulheres têm a dizer. Homens, aliás, Noémie Merlant decide não salvar nenhum deles: há o estuprador, o amante egoísta, a horda de fantasmas estupradores, o caixa machista que sai com uma lição de feminismo. Embora entendamos a ideia, a caricatura aqui se adequa bem à questão feminista.

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Tudo em Mulheres na varanda é colorido, sobrecarregado, eletrizado por tudo o que Noémie Merlant quer dizer e mostrar. Passamos do sangue à fantasia, da comédia ao drama, numa extravagância formal emprestada de Almodóvar. Este apetite aguçado pelo cinema acaba por ficar atolado na dissertação, e na vontade de marcar todas as caixas do cenário pós-#MeToo perfeito que não omitisse nenhum assunto: aborto, violação, nudez dessexualizada (estamos aqui há pouco circunspecto), menstruação, peidos, masturbação, irmandade, uma consulta burlesca com o ginecologista – cena rara que, em sua calma turva, pega algo nos corpos de mulheres.
Este catálogo acaba aparecendo como o coração do filme. Isso é o que ele queria nos mostrar, sem dizer nada de muito original e esquecendo no processo de criar uma ficção em forma adequada. Porque, ao assumir tão rapidamente o aspecto de um manifesto, As mulheres da varanda foge ao essencial: explorar as ambigüidades de suas heroínas e as áreas cinzentas de toda sexualidade, em vez de dar palestras. E depois abrir um espaço que desse ao espectador espaço para fazer o trabalho que é seu, ou seja, para se ouvir pensar.

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