A exposição no útero a cannabis predispõe adolescentes e jovens ao uso de drogas através de um mecanismo que um estudo americano acaba de demonstrar em ratos. Em uma pessoa que se tornou viciada em uma droga como a morfina, o desejo de consumir o produto é irreprimível. A menor pista ligada a esse consumo desencadeia a busca pela droga para aliviar a sensação de abstinência.
É esta impulsividade que foi encontrada em ratos expostos no útero THC, o composto psicoativo da cannabis. Os animais responderam por muito mais tempo aos sinais de recompensa alimentar e mostraram superativação dos neurônios motivacionais, aqueles que liberam dopamina no cérebro. Este comportamento não resultou de uma maior preferência pelo alimento oferecido em ratos expostos no útero.
Vulnerabilidade masculina ao vício
Esses animais apresentavam o mesmo comportamento quando estavam acostumados a consumir uma droga como o fentanil, um análogo ilegal da morfina amplamente utilizado nos Estados Unidos. Os roedores ficaram novamente muito mais motivados para administrar a droga e exigi-la ao menor indício da possibilidade de consumi-la, ainda mais fortemente do que por uma recompensa alimentar. Esta consequência comportamental da exposição ao THC no útero preocupava apenas ratos machos, especificam pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Baltimore (Estados Unidos). Uma vulnerabilidade ligada ao sexo já observada em estudos epidemiológicos.
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Nos Estados Unidos, a liberalização do consumo de cannabis
Para os autores do estudo publicado na revista Avanços da Ciênciaesta diferença entre os sexos permanece inexplicável, mas confirma a relevância do seu modelo animal para melhor compreender como a exposição ao THC no útero afeta o desenvolvimento do cérebro humano. Nos Estados Unidos, a liberalização do consumo de cannabis foi acompanhada por um aumento acentuado no número de mulheres grávidas que utilizam a droga na esperança de aliviar ou evitar náuseas e vómitos. Este consumo, incentivado pela publicidade enganosa, corre o risco de tornar uma geração de jovens expostos muito mais impulsiva e dependente de drogas, incluindo opiáceos.