Um incêndio impressionante na terça-feira forçou milhares de pessoas a evacuarem as colinas com vista para Los Angeles, que está enfrentando ventos violentos que espalham as chamas e representam um “perigo mortal”, segundo as autoridades.
O incêndio começou no final da manhã no bairro de Pacific Palisades, povoado por vilas multimilionárias nas montanhas a noroeste da cidade. Já devastou quase 1.200 hectares.
As autoridades identificaram “muitas estruturas já destruídas”, explicou o governador da Califórnia, Gavin Newsom, durante uma coletiva de imprensa na noite de terça-feira.
Cerca de 30.000 pessoas estão sob ordem de evacuação, segundo as autoridades. Nenhum ferimento foi relatado até agora.
“Nunca pensei que o vento pudesse ter tal efeito sobre o incêndio”, disse Gary à estação local KTLA. Este morador do bairro disse ter visto “brasas arrastadas por 100 metros” no ar.
Muitos moradores evacuaram em pânico, com apenas alguns pertences e seus animais de estimação. Muitos ficaram presos no trânsito, como Kelsey Trainor.
“Não havia para onde ir e as pessoas estavam abandonando seus carros”, disse ela. “Todo mundo buzinava, havia chamas ao nosso redor, à esquerda, à direita (…) Foi assustador.”
– Rajadas até 160 km/h –
“Ficamos presos por 20 minutos” no trânsito, enquanto “as crianças eram evacuadas da escola”, disse Andrew Hires, outro morador, à AFP.
Os bombeiros tiveram que desobstruir a estrada com uma escavadeira para chegar ao bairro. O incêndio gerou uma enorme nuvem de fumaça, visível de toda a megacidade.
O incêndio começou no pior momento para Los Angeles, varrido por rajadas violentas.
Os ventos quentes de Santa Ana, típicos do inverno da Califórnia, devem atingir até 160 km/h na região na terça e quarta-feira, de acordo com o Serviço Meteorológico dos EUA (NWS). O suficiente para espalhar as chamas muito rapidamente e representar um “perigo mortal”.
“Não estamos absolutamente fora de perigo”, insistiu Newsom, lembrando que as rajadas “atingirão o pico” esta noite, entre as 22h e as 5h.
O governador democrata pediu aos californianos que “respeitem as ordens de evacuação”, que nem sempre são seguidas nos Estados Unidos.
Mais de 250 bombeiros estão atualmente mobilizados, acrescentou Kristin Crowley, bombeira de Los Angeles.
“A combinação de ventos fortes e a topografia “íngreme” do bairro “torna a tarefa extremamente difícil”, insistiu. Os meios aéreos provavelmente não conseguirão intervir durante a noite.
– Início de inverno extremamente “seco” –
“Este deverá ser o evento de vento mais forte nesta região desde 2011”, alertou Daniel Swain, especialista em eventos extremos da Universidade da UCLA. Mas o risco de incêndio é, segundo ele, “muito maior” do que na altura.
Porque depois de dois anos muito chuvosos que revigoraram a vegetação, o sul da Califórnia vive “o início de inverno mais seco de que há registo”. Em outras palavras, qualquer coisa que tenha crescido abundantemente agora atua como combustível para o fogo.
Os cientistas salientam regularmente que as alterações climáticas estão a aumentar a frequência de fenómenos meteorológicos extremos.
“Novembro, dezembro, janeiro… Não há mais temporada de incêndios. Acontece o ano todo”, lembrou o governador Newsom.
A tempestade atrapalhou a visita do presidente Joe Biden, que veio na terça-feira à Califórnia para anunciar a criação de dois “monumentos nacionais”, vastas áreas protegidas no sul do estado.
Presente em Los Angeles, o democrata de 82 anos aprovou imediatamente a ajuda federal para a segunda maior cidade dos Estados Unidos.
“Isto é algo (…) que não devemos considerar garantido neste momento da história americana”, saudou o Sr. Newsom.
Donald Trump, que sucederá Biden dentro de alguns dias na Casa Branca, ameaçou em setembro cortar a ajuda federal normalmente recebida pela Califórnia para combater incêndios florestais.