Pierre Levasseur: Esta observação surge de uma observação: em França, a prevalência da obesidade entre adultos aumentou de 8,5% em 1997 para 17% em 2020. Um aumento tão rápido e generalizado não pode ser atribuído apenas a factores biológicos ou a escolhas individuais. É em grande parte o resultado de um ambiente diário que incentiva o consumo excessivo de calorias e a redução da atividade física. Os cientistas falam de um “ambiente obesogênico”.
“Certas áreas podem ser descritas como ‘pântanos alimentares'”
Les Dossiers de Sciences et Avenir: Você poderia dar exemplos específicos?
Pierre Levasseur: O nosso ambiente alimentar é caracterizado por uma representação excessiva nos supermercados de produtos ricos em açúcar e gordura. Esses alimentos ricos em energia contêm “calorias vazias” que não fornecem nutrientes essenciais, mas aumentam a ingestão diária de calorias. Uma única lata de Coca-Cola contém cerca de 140 quilocalorias!
O estudo Inca, que analisa o comportamento alimentar dos franceses, confirma este fenômeno: nossos concidadãos consomem em média 2.200 kcal por dia, enquanto a ingestão recomendada, para atividade física moderada (menos de trinta minutos de caminhada por dia), é de 1.800. kcal para uma mulher e 2.100 kcal para um homem.
Além disso, certas áreas, muitas vezes nos arredores das cidades, podem ser descritas como “pântanos alimentares”, quando a oferta dominante é constituída por restaurantes de fast food.
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“Uma remodelação profunda do espaço urbano e periurbano parece essencial”
Les Dossiers de Sciences et Avenir: E a atividade física?
Pierre Levasseur: A terciarização do emprego levou a uma redução do número de trabalhadores em sectores fisicamente exigentes, como a agricultura ou a indústria, em favor de profissões sedentárias baseadas em escritórios. Além disso, os espaços urbanos raramente foram concebidos para incentivar a circulação a pé ou de bicicleta. Por fim, em determinadas zonas há poucos espaços verdes e mais insegurança, o que não incentiva os moradores a sair.
Les Dossiers de Sciences et Avenir: Como escapar deste ambiente obesogênico?
Pierre Levasseur: Uma remodelação profunda do espaço urbano e periurbano parece essencial. Isto envolve diversificar a oferta alimentar e reorganizar os espaços para incentivar a atividade física. Medidas como a ecologização das cidades, a pedonalização, o desenvolvimento de ciclovias, o apoio às empresas locais ou os investimentos nos transportes públicos são alavancas eficazes.
Ao mesmo tempo, as políticas de saúde pública poderiam reorientar o abastecimento alimentar, tributando mais os produtos menos saudáveis, proibindo os alimentos ultraprocessados nas cantinas escolares e nas imediações das escolas ou restringindo a publicidade a “junk food”.
Além disso, os factores de protecção contra a obesidade continuam estreitamente ligados ao nível de escolaridade e ao rendimento. Em França, os números são claros: a prevalência da obesidade é particularmente elevada em Hauts-de-France, onde estes dois indicadores são inferiores à média nacional. Assim, melhorar o acesso à educação e proporcionar melhores condições de vida estão entre as estratégias mais promissoras para combater a obesidade.