NINOSHIMA, Japão – Baumkuchen se originou na Alemanha, mas se tornou um doce muito popular no Japão, onde um prisioneiro de guerra em uma pequena ilha ocidental começou a fazer a guloseima que prosperou em sua nova terra natal.
Hoje, a confeitaria conhecida como “bolo de árvore” por causa da semelhança com um tronco com anéis é considerada um símbolo de longevidade e prosperidade no Japão, onde os festivais Baumkuchen são realizados regularmente.
As adaptações japonesas, incluindo aquelas que usam maccha e batata doce, são presentes populares em casamentos e aniversários. Baumkuchen é vendido em caixas de presente em lojas de departamentos de luxo e embaladas individualmente, versões menores podem ser encontradas em lojas de conveniência.
Os primeiros anos do doce, porém, estão associados a um terremoto catastrófico e a duas guerras mundiais.
Fazer Baumkuchen é uma das atividades mais populares em Ninoshima, a apenas 20 minutos de balsa de Hiroshima. Mas os visitantes também devem aprender o papel da ilha adormecida na história do Japão durante a guerra, de acordo com Kazuaki Otani, chefe do Juccheim Ninoshima Welcome Center.
No centro ao ar livre construído no local de um campo de prisioneiros de guerra, padeiros amadores colocam massa em uma vara de bambu e assam a mistura em fogo de carvão. À medida que a superfície fica marrom clara, uma nova camada é derramada, criando anéis marrons à medida que o bolo fica mais espesso e o cheiro doce se espalha pela área de piquenique.
Foi assim que um confeiteiro alemão chamado Karl Juchheim preparou Baumkuchen enquanto estava preso na ilha há mais de 100 anos.
Durante o período de expansão militarista do Japão, começando no final da década de 1890, Ninoshima serviu como estação de quarentena militar, enquanto a vizinha Hiroshima se transformava em um importante centro militar. Cerca de 4.700 civis e militares, na sua maioria alemães, foram mantidos em 16 campos em todo o Japão durante a Primeira Guerra Mundial. Os prisioneiros alemães em Ninoshima receberam “um certo grau de liberdade” e foram autorizados a cozinhar, disse Otani.
Juchheim administrava uma padaria em Qingdao, na China, então território alemão, quando foi capturado pelos japoneses em 1915. Ele chegou a Ninoshima em 1917 com cerca de 500 prisioneiros de guerra alemães e acredita-se que tenha testado sua receita de Baumkuchen lá, disse Otani.
Quando a guerra terminou em 1918, Juchheim e cerca de 200 outros prisioneiros de guerra permaneceram no Japão. Em março de 1919, o Baumkuchen de Juchheim estreou comercialmente no Japão na Exposição de Produtos da Prefeitura de Hiroshima. Seu bolo artesanal era extremamente popular e atraiu uma grande multidão de visitantes japoneses, mostram documentos históricos.
O confeiteiro abriu uma confeitaria em Yokohama, perto de Tóquio, em 1922. O grande terremoto de Kanto de 1923 destruiu o negócio e forçou Juchheim a se mudar com a família para a cidade portuária de Kobe, no oeste, onde abriu uma cafeteria que servia Baumkuchen. Essa loja foi destruída por bombas incendiárias dos EUA em Kobe dois meses antes do final da Segunda Guerra Mundial.
Mesmo assim, ele permaneceu e expandiu o negócio em Kobe, onde a Juchheim Co., Ltd. ainda opera como um dos principais confeiteiros do Japão, com a ajuda de sua esposa Elise e de uma dedicada equipe japonesa.
A bomba atómica lançada pelos EUA sobre Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, e outra sobre Nagasaki, três dias depois, mataram mais de 210 mil pessoas no final daquele ano. Na sequência, cerca de 10.000 vítimas gravemente feridas foram enviadas de Hiroshima para Ninoshima para tratamento e abrigo temporário. A maioria morreu lá e muitos dos seus restos mortais ainda não foram encontrados, dizem os especialistas.
Juchheim morreu de doença em um hotel de Kobe em 14 de agosto de 1945, um dia antes de o Japão anunciar sua rendição.
“Sua culinária era uma expressão de seu desejo de paz”, disse Otani. “Ao partilhar com os visitantes como eram as coisas naquela época, espero que dê às pessoas a oportunidade de refletir sobre a paz.”